A Física Quântica e a Consciência: Um Debate Sobre Evidências e Limites
- Marcelo Madeira
- 30 de jan.
- 3 min de leitura
A interseção entre a Física Quântica e a consciência tem sido um terreno fértil para debates intensos e complexos. A entrevista entre o físico e teórico da consciência Amit Goswami e o jornalista Cláudio Abramo exemplifica um confronto de ideias que desafia tanto os limites da ciência convencional quanto as interpretações emergentes sobre a natureza da realidade.
A Questão da Matematização na Física
Cláudio Abramo levanta uma preocupação central ao questionar a ideia de que a Física Quântica pode ser utilizada para explicar fenômenos que tradicionalmente se encontram fora de seu escopo. Ele destaca que, na Física, a matematização é o método predominante para descrever a natureza, e que qualquer teoria que não possa ser expressa matematicamente dificilmente seria aceita pela comunidade científica como física.
A resposta de Amit Goswami é incisiva: embora a matematização seja fundamental na Física, ela não é a única via para a compreensão da realidade. Ele menciona que, apesar do sucesso da matemática em descrever leis físicas, não há uma justificativa filosófica definitiva para que a Física deva ser inteiramente matematizada. Citando pensadores como Nancy Cartwright e Platão, Goswami argumenta que a matemática pode ser vista como uma expressão de arquétipos que precedem o mundo físico, sugerindo que a Física precisa incorporar algo além da matéria e da matemática para ser verdadeiramente completa.

A Matematização e os Limites da Física Quântica
Goswami avança em sua argumentação ao discutir as limitações da Física Quântica, particularmente no que se refere ao problema da medição. Ele cita o princípio da descontinuidade, ilustrado pela famosa discordância entre Niels Bohr e Erwin Schrödinger sobre a natureza dos saltos quânticos. A descontinuidade, segundo Goswami, é uma característica intrínseca da Física Quântica que resiste a uma descrição matemática completa.
Essa resistência, argumenta ele, abre espaço para a introdução de conceitos como o livre-arbítrio e a consciência, que não podem ser capturados por uma estrutura determinista e matemática. Aqui, Goswami sugere que a Física Quântica oferece uma base para integrar noções de consciência, livre-arbítrio e, possivelmente, uma consciência cósmica que atua como agente na manifestação da realidade.
Evidências Empíricas: Um Desafio Contínuo
A pergunta de Abramo sobre as evidências empíricas para tais afirmações é direta e crucial. Goswami responde apresentando experimentos que, segundo ele, suportam a ideia de que a consciência pode ter um papel causal nos fenômenos físicos. Ele menciona o experimento de Jacobo Grinberg-Zylberbaum, no qual dois meditadores demonstraram uma correlação cerebral em condições onde a comunicação convencional era impossível, sugerindo um fenômeno de não-localidade.
Além disso, Goswami refere-se aos experimentos de Helmut Schmidt com geradores de números aleatórios, onde médiuns teriam influenciado os resultados mesmo após um intervalo de meses, evidenciando, segundo ele, que o colapso das funções de onda quânticas só ocorre com a observação consciente.

Um Novo Paradigma?
A conclusão de Goswami é provocadora: estamos à beira de uma revolução na Física, comparável à mudança paradigmática que ocorreu com Copérnico. Ele propõe que essa nova visão pode integrar os fragmentos díspares da consciência e oferecer uma nova compreensão dos valores e da realidade.
No entanto, a reação de Abramo representa uma postura cética que é compartilhada por muitos na comunidade científica. A falta de uma base matemática e de evidências empíricas amplamente aceitas para essas ideias faz com que elas permaneçam na periferia do pensamento científico tradicional.
Reflexões Finais
Este debate entre Goswami e Abramo exemplifica um dilema central no diálogo entre ciência e filosofia: até onde podemos estender as interpretações científicas sem perder o rigor que caracteriza a ciência? As ideias de Goswami oferecem uma visão ousada que busca transcender as limitações do materialismo, mas que enfrenta o desafio de fornecer uma fundamentação sólida dentro dos parâmetros científicos estabelecidos.
O futuro dessa discussão dependerá, em grande parte, da capacidade de novas gerações de cientistas e filósofos de construir pontes entre esses mundos aparentemente inconciliáveis, ou de reformular as questões em termos que possam ser aceitos por ambos os lados.
A Física Quântica e a Consciência: Um Debate Sobre Evidências e Limites
Artigo de Marcelo Madeira

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