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Marcelo Madeira

A Teoria dos Muitos Mundos: Uma Visão Determinista e seu Impacto na Ciência Contemporânea

A Teoria dos Muitos Mundos, também conhecida como a Interpretação de Everett, é uma das interpretações mais fascinantes e debatidas da mecânica quântica.


Proposta por Hugh Everett em 1957, essa teoria sugere que cada possível resultado de uma interação quântica realmente ocorre, mas em universos paralelos distintos.


Ao contrário de outras interpretações, como a de Copenhague, que introduz o colapso da função de onda, a Teoria dos Muitos Mundos preserva o determinismo, sugerindo que o universo (ou, mais precisamente, o multiverso) evolui de maneira previsível e ordenada, sem espaço para a aleatoriedade quântica.


Neste artigo, exploraremos por que a Teoria dos Muitos Mundos é considerada determinista e discutiremos seu impacto e aceitação na ciência contemporânea.


1) Por que a Teoria dos Muitos Mundos seria uma Visão Determinista?


Na mecânica quântica, determinismo refere-se à ideia de que os eventos são totalmente determinados por causas prévias, sem qualquer aleatoriedade verdadeira.


Muitas interpretações da mecânica quântica, como a de Copenhague, incorporam o conceito de colapso da função de onda, onde as probabilidades associadas a diferentes estados quânticos se resolvem em um único resultado observável quando uma medição é feita.


Esse colapso é indeterminista, pois o resultado específico da medição é, em última análise, aleatório.


Em contraste, a Teoria dos Muitos Mundos elimina a necessidade de colapso. De acordo com Everett, a função de onda quântica nunca colapsa; ao invés disso, o universo "se divide" ou "se ramifica" em vários universos paralelos para acomodar cada um dos possíveis resultados de uma interação quântica.


Cada vez que uma escolha quântica ocorre, como a detecção de uma partícula em uma posição específica, o universo se divide em tantas ramificações quanto houver resultados possíveis. Em cada uma dessas ramificações, a função de onda evolui de maneira perfeitamente determinista, seguindo as equações de Schrödinger.


Por essa razão, a Teoria dos Muitos Mundos é considerada determinista. Embora a teoria introduza a ideia de múltiplos universos, cada um evolui de acordo com regras quânticas determinísticas, sem a introdução de qualquer elemento aleatório ou imprevisível.


Teatro de Holograma

A aleatoriedade aparente que observamos é apenas o resultado de estarmos localizados em uma das muitas ramificações do multiverso.



2) A Teoria dos Muitos Mundos tem muitos adeptos na Ciência Contemporânea?


Embora a Teoria dos Muitos Mundos tenha sido inicialmente recebida com ceticismo, ela conquistou um número significativo de adeptos na ciência contemporânea, especialmente entre físicos teóricos e filósofos da ciência. Sua popularidade crescente pode ser atribuída a vários fatores:


Coerência Matemática e Filosófica


Uma das principais razões para o apoio à Teoria dos Muitos Mundos é sua simplicidade conceitual e coerência matemática. Ela oferece uma interpretação elegante da mecânica quântica que não requer a adição de conceitos adicionais, como o colapso da função de onda.


Para muitos cientistas, isso faz dela uma interpretação mais "pura", que se alinha melhor com a matemática subjacente da teoria quântica.


Determinismo e Evitação de Paradoxos


A Teoria dos Muitos Mundos também é atraente por manter o determinismo na física, algo que muitas interpretações quânticas perdem. Além disso, ela resolve muitos dos paradoxos que surgem na mecânica quântica, como o famoso paradoxo do Gato de Schrödinger.


Nesse paradoxo, um gato é colocado em um estado quântico que o deixa simultaneamente vivo e morto até que uma medição seja feita. Na Teoria dos Muitos Mundos, em vez de colapsar para um estado único, o gato existe em dois universos paralelos: um onde está vivo e outro onde está morto, evitando o paradoxo.


Impacto nas Discussões Contemporâneas


Com o tempo, a Teoria dos Muitos Mundos ganhou espaço em debates acadêmicos e influenciou o pensamento científico. Físicos como David Deutsch e Sean Carroll são grandes defensores dessa interpretação, argumentando que ela oferece uma explicação mais completa e satisfatória para os fenômenos quânticos.


Críticas e Desafios


No entanto, a teoria não é isenta de críticas. Uma das principais objeções é de natureza filosófica: a ideia de que incontáveis universos paralelos estão constantemente se dividindo pode parecer excessiva e contrária à intuição.


Além disso, a falta de evidência experimental direta para a existência desses universos paralelos faz com que a teoria permaneça especulativa. Alguns cientistas consideram a proliferação de universos uma solução "cara" em termos de ontologia, já que requer a existência de um número infinito de realidades.


Aceitação Crescente


Apesar dessas críticas, a Teoria dos Muitos Mundos é levada a sério no campo da física quântica. Sua aceitação entre os físicos tem crescido, em parte porque, ao contrário de outras interpretações, ela não introduz elementos ad hoc para explicar o comportamento quântico e, em parte, porque é compatível com a matemática da teoria quântica sem modificação.


3) A Pergunta: Quem Escolhe o Resultado?


Diante da preservação do determinismo na Teoria dos Muitos Mundos, surge uma pergunta fundamental:


"Quem escolhe o resultado?"


A resposta, dentro dessa interpretação, é que não há uma escolha ativa de resultado.


Em vez disso, todos os resultados possíveis ocorrem, cada um em um universo paralelo.




Teatro de Holograma

Na Interpretação de Copenhague, o colapso da função de onda determina aleatoriamente um único resultado.


Já na Teoria dos Muitos Mundos, o colapso simplesmente não ocorre.


A função de onda evolui de forma contínua e determinística, criando uma ramificação do universo para cada possível resultado quântico.


Assim, a escolha do resultado é uma ilusão criada pela nossa percepção limitada como observadores em um único ramo do multiverso.


Cada universo paralelo segue seu curso, e nós, como observadores, experimentamos apenas um desses resultados, mas sem que haja uma verdadeira escolha.


Todas as possibilidades são realizadas, mantendo a coerência do determinismo em um nível mais profundo e abrangente.


Pra pensar...


A Teoria dos Muitos Mundos representou uma forma de preservar o determinismo, mesmo diante dos desafios impostos pela mecânica quântica.


Ao adotar essa teoria, cientistas conseguiram manter a ideia de um universo ordenado e previsível, onde todas as possibilidades quânticas são realizadas, mas em diferentes universos paralelos.

A pergunta sobre "quem escolhe o resultado" revela que, na verdade, não há uma escolha: todos os resultados são realizados em universos distintos.


Essa teoria permitiu que muitos físicos continuassem a trabalhar dentro de um paradigma determinista, evitando a aceitação completa da imprevisibilidade da natureza quântica, como sugerido pela Interpretação de Copenhague.


O debate continua, mas a Teoria dos Muitos Mundos oferece uma visão fascinante e radicalmente diferente da realidade, onde o multiverso se desenrola em uma infinidade de caminhos, cada um tão real quanto o outro.


 

A Teoria dos Muitos Mundos: Uma Visão Determinista e seu Impacto na Ciência Contemporânea


Artigo de Marcelo Madeira


Fontes:

  • Quando a Ciência Encontra a Religião - Inimigas, Estranhas ou Parceiras?

    Ian G. Barbour (Ganhador do Prêmio Templeton) - Ed. Cultrix.

  • Eureka! Um livro sobre Ideias - Michael Macrone - Ed. Rotterdan

  • A Física Quântica na Vida Real - Osny Ramos - Ed. Odorizzi

  • O Universo Autoconsciente - Amit Giswami - Ed. Goyo

  • What the Bleep do we know - W. Arntz, B. Chasse, M. Vicente - Ed. Heyne

  • Viagem no Tempo - A Mente além do Ontem, Hoje e Amanhã - Fred Alan Wolf - Ed. Mercuryo


Teoria dos Muitos Mundos




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